sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Memória da torcida mantém viva a participação dos clubes do PA na elite

“Que tempo bom”. A frase é quase que unânime quando os torcedores de Remo, Paysandu e Tuna lembram as participações de seus clubes do coração na Série A do Campeonato Brasileiro. A saudade também vem carregada de recordações de jogos inesquecíveis e adversários de alto nível, além de campanhas inspiradoras. Os bons tempos, conforme dizem os nostálgicos apaixonados, também contrastam com o atual momento dos clubes paraenses, que não disputam a primeira divisão a pelo menos 10 anos.
Bicolor inesquecível

Na família Brandão o Paysandu é protagonista de boas histórias e recordações inesquecíveis há 3 gerações. Uma delas é a campanha bicolor na Série A de 2002, ano que o Santos de Robinho e sua trupe padeceram sob os olhares de mais de 40 mil pessoas nas arquibancadas do Mangueirão. Ainda teve spray de pimenta no rosto do então treinador Emerson Leão.
– Era um tempo bom.  Sempre víamos o Paysandu dar show no Mangueirão.  Para mim uma das melhores campanhas na Serie A foi a de 2002. Esse ano, tivemos bons resultados aqui, vitórias marcantes, como contra o Santos. Quem não se lembra do fato engraçado envolvendo o Emerson Leão. Ele tirou sarro com os jogadores e os torcedores do Papão e tentou agredir um policial, que jogou spray de pimenta nele. Aquele time do Santos era muito bom – relembra o aposentado Roberto Brandão, patriarca da família, aos 68 anos.
Família Brandão se lembra do tempo em que o Paysandu frequentava a série A (Foto: Samara Miranda / Globoesporte.com)Família Brandão tem histórias inesquecíveis do Paysandu contra grandes clubes do Brasil (Foto: Samara Miranda)
O filho de Roberto, Eduardo, tem 39 anos, vai mais além e lembra até de derrotas inesquecíveis, como na vez em que os bicolores enfrentaram o Corinthians de Neto, Dinei e Viola, um ano após a conquista do título da Série B de 1991. Sem vencer no campeonato há várias rodadas, o empresário pintou o rosto de azul e branco e seguiu para o Mangueirão confiante na redenção bicolor no torneio.  
   – Em 92, Paysandu e Corinthians ficou marcado. O Papão nunca ganhava o time do Corinthians. Nesse tempo o time deles era um timaço, com Neto e Viola. Lembro que eu fui com o rosto todo pintado de tinta guache de azul e branco. O Neto acabou quebrando a perna do nosso lateral Correia, um dos nossos jogadores principais. O time sentiu a saída do Correia e o Neto não voltou para o segundo tempo com medo de acabar sendo vaiado. Acabou que perdemos o jogo por 2 a 1. E foi a primeira vez que chorei pelo Papão, eu soluçava, foi muito triste e a tinta escorria pelo meu rosto. Esse dia ficou marcado – relembrou. 
Leão histórico
Apesar do Remo ter de brigar para disputar a quarta divisão do campeonato Brasileiro desde 2009, o torcedor se orgulha da campanha memorável na Série A de 1993, quando o time terminou o campeonato na sétima colocação geral, a frente de clubes como o Flamengo, Internacional, Grêmio, Fluminense e Vasco da Gama.
– Tivemos uma primeira fase regionalizada em que fomos muito bem, inclusive eliminando o nosso maior rival e classificando junto com o Vitória para a fase decisiva. Era uma espécie de semifinais em dois grupos de quatro. Passamos pela Portuguesa e caímos no grupo do Palmeiras, São Paulo e Guarani. Na época esses times eram muitos fortes. Chegamos a empatar com o Palmeiras da era Parmalat. O Remo não tinha muito medalhões na equipe, mas tínhamos o Mauricinho, ponta do Vasco, que chegou aqui e jogou uma bola que deixava qualquer um entusiasmado. Tínhamos valores locais, tipo o Guilherme. Fico saudoso recordando esses tempos – recorda Maurício Lima, advogado de 37 anos.
A paixão de Lima pelo Remo esbarrava no pai, Alípio, torcedor do rival bicolor. Em um dos jogos mais importantes do Leão, segundo Maurício, a surpresa positiva começou dentro de casa.
– Como os jogos aconteciam no Mangueirão, e era distante, meu pai me levou ao estádio junto com meus amigos. Ele ficou lendo jornal e comendo amendoim, mas sequer observava a partida. Já tinha desistido de me fazer virar casaca. Esse jogo ficou marcado, pois vencemos por 5 a 2 e nos credenciamos para a fase decisiva do campeonato. O jogo em si foi marcado pelo grande Ageu Sabia que destruiu o time da Portuguesa do badalado Denner – explica.
Águia guerreira

Em 1986, depois de se tornar campeã da Série B, a Tuna Luso iniciava sua tgerceira caminhada na primeira divisão sob a desconfiança da torcida. Pudera: o clube da Região Norte teria pela frente no Grupo C a equipe do Vasco, o Cruzeiro, Santos, Bahia, entre outros times. A “ficha” só caiu para Fernando da Cunha Junior, de 45 anos, na terceira rodada, na vitória dos lusos sobre o Náutico, no Estádio do Mangueirão.
Vitor tem 20 anos e nunca viu a Tuna Luso na primeira divisão (Foto: Arquivo Pessoal)Vitor tem 20 anos e nunca viu a Tuna Luso na primeira divisão (Foto: Arquivo Pessoal)
– Era difícil acreditar que a Tuna estava na Série A, na elite, que veríamos jogos da Tuna contra grandes clubes do futebol nacional. Até a terceira rodada, não tínhamos ganhado nenhuma partida. Daí, contra o Náutico, com três gols de Clovis, vencemos. Tuna jogou fácil e venceu com autoridade. Foi quando, realmente, acreditei que o meu time do coração estava disputando a Série A – revelou o administrador de empresas, torcedor da Águia Guerreira.
A paixão pelo clube mais antigo do Pará acabou chegando ao sobrinho de Fernando. Vitor Tourinho, de apenas 20 anos, não viu a Tuna em nenhuma grande competição nacional, apenas na Série C, mas mantém vivo o sonho de ver a Lusa de volta ao cenário nacional.
– Claro que eu sonho com a Tuna na Série A, jogando grandes jogos, voltando aos tempos de glórias, mas hoje em dia as coisas no futebol dependem muito de planejamento a médio e longo prazo. Então se a Tuna conseguisse voltar para uma Série B, já seria uma grande avanço. Sou realista e sei que isso tudo depende de muito trabalho e uma gestão mais profissional – acredita o estudante, que acompanha o clube do coração desde os três anos.

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